Contra a corrente(za)

   Acordo devagar e ainda teimo em fazer o café. Como se quisesse mesmo despertar para ver um Mundo que acorda movido a dinheiro, mentiras e poder.

   Acordo a divagar sobre um caminho que sei... não terá a menor chance de acontecer.

   Boto os olhos nas pessoas, abro um largo sorriso e puxo logo conversa. Pouca conversa, já que todos estão apressados (e eu também estou). A sensação é a de que todos estão entorpecidos e que isso prejudica demais a percepção. A ficção e a verdade se confundem e se unem no imaginário popular. Ao mesmo tempo que pessoas vibram freneticamente a vitória de um candidato, outros tantos xingam grevistas, agridem homossexuais, ofendem por preconceito.

   Olho um amigo nos olhos e sei que, apesar de sermos em tão poucos, ainda resistimos e há um sonho ainda vivo em nossos corações.

   Não procuro problemas e nem confusão. Apenas acredito num Mundo mais justo, mais livre e mais consciente.

   Dá força ver que ainda há algumas almas dispostas a enxergar e não se conformar, assim como dá força ver que jovens almas ainda encontram motivos para buscar o novo, o diferente, o improvável.

   Ando, penso e vejo sorrisos. Mas não são sorrisos inteiros, são sorrisos de cascas. Cascas de almas que sonham com um carro maior, que polui mais e ocupa mais espaço.

   O dia é cansativo e a necessidade de ganhar dinheiro nos afasta dos sonhos, da arte, da cultura e do amor. Jovens são obrigados a abandonar seus sonhos mais e mais cedo... e mais e mais cedo se entorpecem e começam a dar sorrisos de cascas movidas a dinheiro e frieza.

   Honestidade? Pra que? O Mundo é dos esperto, não é? O negócio é se dar bem sobre todo mundo, não é?

   Persisto, insisto, logo existo!

   O dia passa, me tranco em casa e a cada corpo que cai nos noticiários, mais minha fome aumenta e mais fico sem entender até quando poderei acordar, fazer o café e nadar contra a correnteza...

Obrigado e até a próxima....